As pandemias exigem frequentemente o desenvolvimento rápido de vacinas para travar a propagação da doença e salvar vidas. Esse desenvolvimento durante o decurso duma pandemia é um processo complexo que envolve vários desafios.
O tema das vacinas pode ser abordado como o grande triunfo da imunologia. Introduzir-se-á as categorias de vacinas, os requisitos para uma vacina eficaz, incluindo as respostas por linfócitos B e T apropriadas, o papel dos adjuvantes e dos interferões. Abordar-se-á o impacto das vias de administração e de outros fatores que determinem imunogenicidade ou tolerância aos antigénios, bem como, algumas características das respostas imunológicas em idades extremas que condicionem a resposta à vacinação.
Ora, o desenvolvimento de vacinas eficazes para prevenir infeções e doenças virais, para além do conhecimento de quais os mecanismos da resposta imunológica que são necessários desencadear, impõe o conhecimento do vírus, de como ele se replica e como se processam as interações vírus-hospedeiro. Só com esse conhecimento prévio se encontram os melhores antigénios vacinais.
Citando Crank e colaboradores (Science 2019; doi: 10.1126/science.aav9033): “Technologies thatdefine the atomic-level structure of neutralization-sensitive epitopes on viral surface proteins are transforming vaccinology and guiding new vaccine development approaches”.
Tendo por base este facto, propõem-se a discussão de dois exemplos de vírus para os quais o sucesso no desenvolvimento de vacinas eficazes foi totalmente antagónico: Por um lado, o vírus sincicial respiratório (denominação oficial: RSV de respiratory syncytial virus), para o qual foi possível desenhar uma vacina tendo por base os conhecimentos da estrutura proteica da proteína viral fundamental para o início do ciclo replicativo do vírus; Por outro, o vírus da imunodeficiência humana (denominação oficial: HIV de human immunodeficiency virus), que depois de quatro décadas de inúmeros estudos e milhões de euros investidos, ainda não se descobriu qual o melhor antigénio a usar para induzir uma resposta imunológica capaz de neutralizar o poder infecioso do vírus.
Com estes dois exemplos espera-se contribuir para perspetivar a complexidade das infeções virais e realçar os inúmeros fatores que tornam o desenvolvimento de vacinas antivirais uma tarefa desafiante e não raras vezes difícil.
A COVID-19, causada por um novo coronavírus identificado pela primeira vez em Wuhan, China (SARS-CoV-2), reconhecida como pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020, causou um aumento muito significativo de hospitalizações por pneumonia e falência multiorgânica, colocando uma pressão, sem precedentes, sobre os sistemas de saúde em todo o mundo.
O contexto de pandemia e de emergência global reforçou a urgência do desenvolvimento de vacinas para esta doença, num esforço de convergência sem precedentes da comunidade científica global.
Portugal iniciou a preparação do plano de vacinação contra a COVID-19 durante a primeira vaga registada entre março e julho de 2020, sempre no contexto de coordenação de esforços com a União Europeia. A TaskForce para a elaboração do «Plano de vacinação contra a COVID-19 em Portugal», teve como objetivo garantir a coerência e execução do Plano e coordenar o trabalho já realizado, entre todas as entidades envolvidas no sucesso desta operação, bem como a articulação com as Regiões Autónomas e auscultação de organismos relevantes. O planeamento incluía a estratégia de vacinação, assegurando a logística do armazenamento e distribuição das vacinas, garantindo o registo eletrónico da respetiva administração e da vigilância de eventuais reações adversas e promovendo uma comunicação transparente com a população sobre a importância da vacinação.
Os desafios relacionados com as operações logísticas das vacinas, pela sua complexidade em termos de manuseamento e estabilidade reduzida, foram relevantes para o bom termo de todo o processo.
Portugal foi o primeiro país do mundo a atingir a meta dos 85% da população vacinada contra a COVID-19, tendo-se constituído com um país de referência neste âmbito. Já na sexta fase de vacinação, Portugal continua a apresentar elevadas taxas de cobertura vacinal, graças a um dispositivo coordenado pela TaskForce que planeia e monitoriza o processo de vacinação, em apoio ao Ministério da Saúde.
A TaskForce, com coordenação militar, permitiu “colar” todas as Entidades do Ministério da Saúde em Portugal, de forma a materializar um plano com um modelo de governação muito bem definido e estruturado, constituindo-se como um exemplo na eficiência do processo de vacinação (ver figura). Os pilares base que serviram de chave para o sucesso de todo o processo foram uma Organização de planeamento centralizado e execução descentralizada, uma Comunicação Interna e Externa robusta e próxima dos OCS e de todos os intervenientes do processo e uma Liderança capaz de conduzir todo o planeamento e execução do plano de vacinação.